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Educação Financeira nas Escolas: o que os alunos precisam aprender?


Por Xavana Celesnah

De acordo com os dados publicados pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em setembro de 2023, 77,4% das famílias brasileiras estavam endividadas.

Esse alto índice de endividamento é preocupante e, no intuito de formar adultos mais conscientes em relação à administração das finanças, o ensino de educação financeira se faz necessário nas escolas, desde a educação infantil.

Educacao Financeira

Em 2020, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incluiu a educação financeira entre as matérias obrigatórias. Esse fato contribui para que as crianças e adolescentes tenham mais conhecimento sobre administração financeira e, consequentemente, sobre como gerenciar o dinheiro de forma responsável. De acordo com a BNCC, o tema pode ser abordado de forma interdisciplinar, ou seja, as mais variadas disciplinas podem incluir o estudo das finanças em suas aulas, analisando a questão a partir de diversos pontos de vista, como o histórico, o geográfico, o social, o econômico, o político, o ambiental e, claro, o matemático.

Aprender educação financeira é primordial, porque o conhecimento adquirido será utilizado de forma prática no dia a dia dos futuros adultos em formação. Os aprendizados nessa área podem contribuir para o desenvolvimento de pessoas mais felizes e realizadas na vida, já que desajustes na área financeira são frequentemente associados a problemas de depressão e ansiedade na população endividada.

Os ensinamentos de educação financeira ajudam a criar uma consciência a respeito do assunto que, muitas vezes, não é desenvolvida no âmbito familiar. Com isso, os estudantes crescem mais preparados para enfrentar os desafios da vida real. Independente da profissão escolhida, todos terão que lidar com a administração dos recursos financeiros.

Pensando em capacitar os professores para disseminar a educação financeira em todo o país, nas escolas públicas e privadas, o governo federal criou o Programa Educação Financeira na Escola.

O que é o Programa Educação Financeira na Escola?

Criado pelo Ministério da Educação em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Programa Educação Financeira na Escola é uma ação de formação para professores da educação básica. O programa consiste em um curso gratuito realizado através de Educação a Distância com o objetivo de propagar o ensino de educação financeira nas escolas brasileiras, públicas e privadas.

Os professores são capacitados a ensinar sobre planejamento, consumo consciente, poupança, investimento e prevenção. O programa abrange todo o território nacional e tem como público-alvo os professores dos ensinos fundamental e médio.

Educacao Financeira na Escola

Quais são os assuntos abordados no ensino de educação financeira?

A educação financeira é uma disciplina que ensina os estudantes a compreenderem as diversas facetas do relacionamento com o dinheiro. Assuntos como o consumo consciente e o consumo compulsivo estão entre os tópicos da disciplina, no intuito de mostrar a importância de saber administrar o próprio dinheiro para evitar passar por situações de escassez ou endividamento no futuro, além de contribuir para a melhoria da qualidade de vida.

Criar um relacionamento saudável com o dinheiro está entre as metas da educação financeira e o quanto antes as crianças e adolescentes aprenderem sobre o assunto, mais chances terão de incorporar bons hábitos no dia a dia.

Conceitos básicos, como a importância de poupar, estão entre os assuntos analisados pela disciplina. Os estudantes precisam saber diferenciar o que são desejos e o que são necessidades. Com isso, aprendem a compreender que as emoções interferem nos gastos e passam a perceber quando estão sendo levados pelos impulsos emocionais a fazer gastos desnecessários e a tomar decisões equivocadas.

Importancia de Poupar

O estabelecimento de metas e o discernimento na prioridade dos gastos são aprendizados que podem ser incorporados desde o ensino fundamental. Além disso, conceitos como juros, inflação e taxas de câmbio devem ser introduzidos aos poucos, de maneira acessível, permitindo que os alunos compreendam como esses fatores impactam nas finanças.

A elaboração de orçamentos individuais ajuda os alunos a perceberem o valor das coisas e a tomar decisões mais apropriadas na hora de gastar. Além disso, introduzir conceitos de economia comportamental fará toda a diferença ao demonstrar como as decisões financeiras são tomadas. Compreender os fatores psicológicos que influenciam gastos e investimentos ajuda os alunos a desenvolver uma consciência crítica sobre suas próprias escolhas financeiras e suas consequências a longo prazo.

Como a tecnologia vem desempenhando um papel vital na educação financeira contemporânea, as ferramentas digitais e simuladores podem proporcionar aos alunos experiências práticas, permitindo que experimentem cenários financeiros hipotéticos, o que facilita a aplicação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula.

Portanto, na educação financeira, os estudantes vão aprender conceitos como:

Consumo consciente

✓ A importância de poupar

✓ Economia comportamental

✓ Juros

✓ Investimentos

✓ Empreendedorismo

✓ Proteção contra fraudes

✓ Sustentabilidade

✓ Bons hábitos financeiros

Bons Habitos Financeiros

No ensino médio, a compreensão do sistema bancário e dos serviços financeiros disponíveis também devem estar entre os assuntos abordados para que os estudantes aprendam sobre como funcionam as contas bancárias, cartões de crédito, empréstimos e investimentos básicos.

Ademais, educação financeira não deve ser vista como uma disciplina isolada, mas integrada ao currículo de forma transversal. Os professores desempenham um papel essencial ao relacionar conceitos financeiros com situações da vida real, tornando a aprendizagem mais envolvente e próxima ao dia a dia.

Palestras de profissionais do setor e visitas a empresas também podem contribuir para que os alunos tenham uma visão de como funciona o mundo financeiro, conectando teoria e aplicação real. Portanto, a educação financeira escolar ajuda na formação dos indivíduos e não diz respeito apenas à transmissão de conhecimentos, mas principalmente ao cultivo de habilidades práticas. Essas habilidades, se incorporadas pelos alunos, podem ajudar no crescimento de pessoas bem resolvidas na área financeira da vida.

Como ensinar educação financeira de forma lúdica?

No ensino fundamental, a abordagem da educação financeira pode ser feita com a inclusão de jogos e brincadeiras. Essas atividades são ferramentas valiosas para transmitir os conceitos de uma forma leve, mas que será assimilada pela mente dos alunos. Veja a seguir algumas sugestões de atividades para a sala de aula:

1. Jogos de Orçamento:

Nesse tipo de jogo, os alunos são convidados a criar orçamentos simplificados. Assim, eles vão atribuir uma quantia de recursos para diferentes categorias de despesas. O objetivo é fazer com que eles compreendam quais são as prioridades orçamentárias, principalmente no contexto dos gastos familiares.

Jogos de Orcamento

2. Brincar de Supermercado Fictício:

Uma brincadeira interessante para ser feita com as crianças é simular um supermercado. Colocar produtos “de mentirinha” em prateleiras, onde os alunos possam comprá-los (também com cédulas de brincadeira) vai dar uma dimensão do que são os gastos.

SuperMercado Ficticio

3. Projetos Empreendedores:

Incentivar os alunos a criar pequenos projetos empreendedores na escola, desde a concepção de uma ideia até a venda de produtos ou serviços fictícios. Isso promove o entendimento prático de aspectos financeiros e estimula o espírito empreendedor.

Projetos Empreendedores

4. Jogos de Investimento Simulados:

Para ensinar sobre os diferentes tipos de investimentos, a criação jogos onde os alunos possam simular onde investir seus recursos fictícios e a demonstração do retorno a longo prazo, pode ser uma maneira interessante de fazer com que os estudantes conheçam sobre os benefícios dos investimentos.

Ao adotar abordagens diversificadas, com aulas teóricas, práticas, brincadeiras e palestras, as escolas conseguem contribuir significativamente para a formação de uma consciência financeira nos alunos. Esse conhecimento terá impactos positivos nos desafios que enfrentarão no futuro, quando começarem a trabalhar e administrar seus próprios recursos econômicos.

Investimento e Prevencao