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Bullying nas escolas: Estratégias de prevenção e apoio para alunos


Por Xavana Celesnah

Bullying é um termo que começou a ser estudado e debatido no Brasil na década de 90. Mas, já havia surgido na Suécia desde a década de 70, quando foi criado pelo psicólogo Dan Olweus. A expressão se origina da palavra inglesa “bully”, que significa valentão. Daí, o termo bullying foi adotado para conceituar as agressões físicas ou psicológicas, que acontecem sem motivação evidente, praticadas por uma pessoa ou por um grupo, contra um indivíduo ou mais pessoas, com a finalidade de intimidá-la ou agredi-la. O bullying é um ato de violência, que pode ser sutil ou evidente , e causa dor e angústia às vítimas.

Bullying

Essas vítimas, muitas vezes são crianças e a escola é um dos espaços onde os atos de bullying costumam se manifestar com frequência, prejudicando a autoestima dos agredidos. O episódio ocorrido em 1999, nos Estados Unidos, na Columbine High School, que resultou na morte de 12 crianças e um professor, foi um marco significativo para que as escolas repensassem as ações que deveriam ser adotadas para combater o bullying.

Ficou evidente que o bullying sofrido pelos adolescentes que entraram na escola assassinando colegas e que depois se suicidaram foi um fator decisivo para motivar os atos de violência. No Brasil, em 2011 o caso da escola de Realengo, no Rio de Janeiro, lembrou a tragédia de Columbine, pois, da mesma forma, um estudante que era ex-aluno de uma escola carioca, entrou na instituição e assassinou 12 crianças antes de cometer suicídio.

Esses injustificáveis crimes são apenas dois exemplos da gravidade das consequências psicológicas que podem ser provocadas a partir de atos de bullying. Por isso, é necessário que as escolas estejam preparadas para prevenir o problema, conscientizar alunos e professores a respeito desse tipo de violência e proporcionar medidas para evitar a manifestação do bullying no ambiente educativo.

O bullying não está relacionado apenas ao universo masculino, mas geralmente os meninos estão mais propensos a cometer violências físicas diretas. Enquanto as meninas estão mais envolvidas com o bullying indireto, que é mais sutil, mas não menos prejudicial, ocorrendo de forma verbal. Fazer piadinhas sobre orelhas de abano, cabelos afrodescendentes, tipos físicos magros ou gordos, etnias ou outras características com o intuito de constranger a pessoa, precisam ser notadas o quanto antes pelos professores para que estratégias apropriadas sejam adotadas no sentido de eliminar a violência e conscientizar os alunos a respeito dos danos à saúde mental provocados por ela.

A História do Patinho Feio, escrita por Hans Christian Andersen, ilustra bem o quanto o bullying é capaz de detonar a autoestima das pessoas. O patinho feio era, na verdade um belo cisne, mas foi julgado e pela própria família pela sua aparência como sendo feio e esquisito. Rejeitado, ele se sente solitário e deprimido. Apenas quando encontra um grupo que o reconhece pelo que ele é, ele passa a compreender o próprio valor.

De uma forma simples, a fábula infantil do Patinho Feio, demonstra o quanto nós, seres humanos, temos a necessidade de sermos aceitos em grupos. E quando isso não acontece, o sofrimento pode ser devastador. Inclusive, essa história pode ser utilizada para iniciar as reflexões a respeito do tema já na educação infantil. E assim, criar um ambiente de compaixão onde as crianças entendam a necessidade de aceitar as pessoas como elas são e também de ter respeito ao que é diferente.

Dentre as medidas adotadas pelas escolas para combater o bullying, as campanhas de conscientização estão entre as mais importantes. Portanto, quando surgirem brincadeiras agressivas ou boatos degradando a imagem de alguém, os professores devem ficar atentos e não considerá-las brincadeiras típicas da idade. Devem ligar o alerta vermelho e avaliar a necessidade de realizar palestras, campanhas nas redes sociais e ações internas na escola para que o conhecimento sobre o tema chegue a todos os estudantes.

Geralmente, as vítimas do bullying são crianças que têm características físicas que destoam do padrão, crianças muito tímidas, os alunos novatos e também aqueles que são alvo de preconceito dos mais variados tipos, seja relacionado à classe social, à religiosidade e à etnia.

As vítimas das agressões psicológicas ou físicas muitas vezes ficam caladas, guardando aquela ferida por toda a vida. Por isso, o apoio psicológico nas escolas é fundamental, afim de curar os danos e desenvolver crianças com autoestima e amor próprio, para que cresçam reconhecendo o seu valor.

O impacto emocional do bullying é profundo. As vítimas muitas vezes sofrem de ansiedade, depressão e baixa autoestima. Além disso, o bullying pode interferir significativamente no desempenho acadêmico e na qualidade de vida das crianças e adolescentes atingidas. Por isso, é crucial que educadores, pais e autoridades estejam atentos aos sinais de bullying e intervenham de maneira eficaz.

Para combater eficazmente o bullying, é essencial adotar estratégias abrangentes que envolvam não apenas os professores, mas também a família dos estudantes e os próprios alunos. As escolas devem ter políticas claras e procedimentos para lidar com casos de bullying e a intervenção rápida por parte dos educadores e da equipe escolar é crucial para interromper o comportamento agressivo e apoiar tanto a vítima quanto o agressor. Veja algumas sugestões de ações que podem ser adotadas nesse sentido:

Eventos de Conscientização: Educar os alunos sobre os impactos do bullying é fundamental. Isso pode ser feito através de palestras com especialistas, workshops com dinâmicas em grupo e campanhas de conscientização, que podem ser eficazes em ajudar os estudantes a entenderem as consequências do bullying, promovendo empatia e respeito. Atividades que promovam a compaixão, como projetos colaborativos e discussões em sala de aula ajudam os alunos a entenderem as emoções dos outros e a valorizarem as diferenças. A inclusão de todos através do ensino inclusivo, independentemente de sua origem étnica, religião ou habilidades, cria um ambiente mais acolhedor.

Eventos de Conscientização

Apoio Psicológico e Aconselhamento: Oferecer suporte psicológico às vítimas de bullying é extremamente necessário para ajudá-las a superar o trauma. Nas escolas, o apoio psicológico se faz fundamental, de modo que as crianças e adolescentes se sintam acolhidos e possam conversar sobre o assunto se sentindo seguros. Estabelecer canais de comunicação abertos nas escolas também é essencial para que as vítimas se sintam seguras ao relatar casos de bullying. Os educadores devem incentivar os alunos a falar sobre suas experiências, garantindo que sejam ouvidos e apoiados. Além disso, programas de aconselhamento podem ser implementados para os agressores, visando entender as causas do comportamento agressivo e promover a mudança.

Acompanhamento Psicólogico

Programas de treinamento para professores: As escolas precisam oferecer capacitação para os seus profissionais, de modo que eles saibam lidar de forma correta com esse tipo de situação. Os professores devem receber treinamento adequado para saber como identificar e prevenir o bullying no ambiente escolar.

Programa de Treinamento para Professores

Programas de treinamento para pais: Seja através de diálogos individualizados ou por meio de reunião de pais, as escolas também precisam incluir a família na conscientização a respeito do tema. Até porque na convivência, os pais e responsáveis podem notar comportamentos depressivos, introvertidos ou outros sinais que denotem alguma mudança na atitude da criança ou adolescente que mereça atenção. Assim, os pais podem identificar que seus filhos estão sendo vítimas de bullying e buscar ajuda nas instituições de ensino para que a situação seja resolvida.

Programa de Treinamento para Pais

Como apoiar as vítimas de Bullying nas escolas?

Como o bullying é um tipo de violência muitas vezes velado, feito de maneira sutil e com frequência fora das salas de aula, nos corredores e intervalos, as vítimas ficam sem proteção e com vergonha de dialogar sobre o assunto. Por isso, as escolas podem criar estratégias diferenciadas de apoio individual, como programas de mentoria para acompanhar as vítimas e dar apoio emocional na superação das violências sofridas e também criar canais de denúncia. Esses canais podem ser via email ou por telefone e assim as vítimas terão como entrar em contato com os profissionais da escola para relatar o que está acontecendo.

É importante lembrar que os agressores também podem estar passando por situações complicadas e precisam de intervenção para mudar o comportamento. O diálogo e a terapia em grupo são ferramentas capazes de transformar a visão e o pensamento dos agressores no longo prazo.

No Brasil, já existe uma legislação específica que trata a respeito do bullying. A lei 13.185 de 2015, Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). A lei prevê a capacitação de docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema. Além disso, busca implementar e disseminar campanhas de educação, conscientização e informação, inclusive integrando os meios de comunicação de massa com as escolas afim de prevenir e combater o problema.

De acordo com a lei, o bullying é uma intimidação sistemática que pode ser classificada em diversas categorias:

Bullying verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente

Bullying moral: difamar, caluniar, disseminar rumores

Bullying sexual: assediar, induzir e/ou abusar

Bullying social: ignorar, isolar e excluir

Bullying psicológico: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e infernizar

Bullying físico: socar, chutar, bater

Bullying material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem

Bullying virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e social

O bullying é um problema complexo, difícil de resolver, principalmente porque é feito de forma perversa e muitas vezes invisível aos olhos dos professores e demais profissionais da instituição de ensino. Mas, as equipes escolares precisam estar preparadas para enfrentá-lo, pois sabe-se de sua existência, ainda que não esteja se manifestando de forma evidente.

Praticando Bullying

A prevenção, portanto, deve ser a primeira ação das escolas no sentido de evitar a propagação desse tipo de violência. A conscientização e os debates em torno do tema, por meio de uma comunicação aberta, são essenciais para que os estudantes compreendam o problema.

Além da conscientização, políticas anti-bullying são essenciais. As instituições educacionais devem implementar medidas claras para lidar com o bullying e proteger as vítimas. As consequências para os agressores precisam ser aplicadas de maneira consistente para dissuadir futuros comportamentos prejudiciais.

Anti Bullying

Portanto, o bullying é um problema grave que causa sérias consequências na saúde mental dos alunos e exige a atenção de todos no ambiente escolar. Somente através da educação, prevenção e ação decisiva é possível criar relacionamentos respeitosos, onde os estudantes sintam-se acolhidos, respeitados e sem medo.

Respeito Mutuo