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Educação Ambiental: Como as escolas podem abordar o debate a respeito da crise climática global?


Por Xavana Celesnah

As mudanças climáticas estão desencadeando fortes crises ambientais que afetam não só a humanidade, mas toda a vida na Terra. O cenário atual é preocupante, afinal, a temperatura do planeta está aumentando gradativamente: segundo dados de 2021 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a temperatura da superfície terrestre estava 1,09oC mais alta em 2020 do que no ano de 1900. De acordo com o estudo, a previsão é que em 2040, o aquecimento global aumente 1,40oC em relação à temperatura média do planeta em 1900.

Como consequência desse aumento de temperatura na superfície terrestre, surgem outros desequilíbrios ecológicos como o derretimento das geleiras, inundações, aumento das ondas de calor, extinção de espécies animais e vegetais, apenas para citar alguns.

E toda essa crise climática está diretamente relacionada com as ações humanas. A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento de florestas, os aterros sanitários de resíduos sólidos, o uso desenfreado de automóveis são exemplos de atividades humanas que contribuem significativamente para o aumento do efeito estufa. Diante desse cenário de hábitos sociais, o debate sobre a consciência ecológica nas escolas faz-se essencial. Afinal, mudanças no comportamento podem ser adquiridas através da educação e incorporadas no dia a dia. Assim, é possível construir uma sociedade mais engajada com o equilíbrio ambiental.

Planeta Terra

Baobá

Embora o debate em torno da questão ecológica esteja presente desde a década de 70 - tendo a Conferência de Estocolmo como um dos marcos iniciais do movimento ambientalista, passando, no Brasil pela importante Conferência Eco- 92 que resultou em documentos essenciais para a proteção ambiental, e, mais recentemente pelo Acordo de Paris (2015), tratado mundial cujo objetivo é reduzir o aquecimento global - ainda estamos distantes do ideal do desenvolvimento sustentável, em que o progresso tecnológico e social se desenrole sem prejudicar os ecossistemas terrestres.

Nesse contexto, o papel das escolas é fundamental para instruir os estudantes a respeito dos impactos ambientais causados pelas atividades do cotidiano. Através de uma abordagem didática, os professores podem realizar atividades que abordem as principais questões ambientais que afetam a comunidade, além de difundir aos estudantes uma maior sensibilização a respeito da importância do equilíbrio ecológico.

Abordagem Interdisciplinar - Uma das primeiras atitudes que as escolas podem adotar para aprofundar o conhecimento da questão socioambiental é a inclusão da Educação Ambiental como um tema a ser discutido por todas as disciplinas. Dessa forma, o tópico passa a ser abordado sob diversos ângulos:

Natureza

Como parte da Geografia
Como temática para interpretação de textos de Português
Fazendo parte de um contexto histórico social
Como exemplo de reações químicas, de fenômenos físicos e até mesmo de cálculos matemáticos
Como parte do sistema ecológico na Biologia
Como conceito filosófico para debate de ideias

Assim, de maneira expositiva os alunos vão se familiarizando com o tema e compreendendo a questão ambiental a partir de diversas perspectivas diferentes, aprendendo conceitos como energias renováveis, alimentação sustentável, Ética Ambiental, aquecimento global, PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), pegada de carbono, cidades verdes, dentre outros.

Mas, para formar e conscientizar crianças e adolescentes sobre as causas das mudanças climáticas e suas consequências, é necessário que as escolas também incluam atividades práticas no processo educativo. Porque não bastam as aulas expositivas, também é necessário realizar ações para que os alunos possam colocar a mão na massa.

Confira a seguir algumas sugestões de atividades escolares voltadas para crianças que podem auxiliar no desenvolvimento de uma consciência ecológica:

Hortas nas Escolas: muitas crianças que vivem em ambientes urbanos têm pouco contato com a terra e com a natureza durante o dia a dia. Ensinar as crianças a cultivar uma horta é uma maneira de reconectá-las com a natureza e sensibilizá-las para a importância da relação humana com a terra, com as plantas, com os ciclos naturais de nascimento, vida e morte, com as quatro estações do ano, as fases da Lua. Através dessa relação, elas passam a ter mais amor pela natureza e incorporam a consciência ambiental de uma maneira prática e não apenas através das imagens dos livros didáticos. As hortas escolares também são uma oportunidade para que as crianças despertem habilidades como a observação da natureza, a paciência, o trabalho em grupo, o conhecimento de plantas, a comunicação interativa, o pensamento científico.

Plantio de árvores na comunidade: por conta do crescimento urbano, muitas árvores acabam sendo destruídas para dar lugar à muros e paredes de concreto. Além, é claro, da questão do desmatamento que acaba afetando os solos, a atmosfera e a biodiversidade. Portanto, levar as crianças para um dia de plantio de mudas de árvores na comunidade também é uma atividade que as escolas podem incluir no seu cronograma como um momento simbólico de conscientização do ecossistema e reflorestamento. Ao sair do ensino dentro da sala de aula para uma experiência externa, ao ar livre, a escola também passa a criar momentos especiais de aprendizado, que ficarão guardados na memória dos estudantes.

Separação do Lixo: criar campanhas de conscientização nas escolas para colocar em prática a separação do lixo durante uma semana de aulas pode aumentar a responsabilidade dos estudantes na hora de descartar qualquer material. Assim, a distribuição de lixeiras com sinalização de coleta seletiva ajuda as crianças e também os adolescentes a compreenderem melhor o destino de cada resíduo. Por terem cores específicas de acordo com o tipo de material a ser descartado, as lixeiras coloridas facilitam o aprendizado. As amarelas são destinadas aos metais em geral, as vermelhas para os resíduos plásticos, as azuis são para papel e papelão, as marrons são para lixo orgânico e as verdes para vidro.

Reutilizar, Reciclar e Reduzir: ao estimular que os alunos pratiquem os 3R`s da sustentabilidade, os professores podem propor práticas como a reutilização de garrafas pets, que podem virar pequenos jarros de plantas; a reciclagem dos utensílios que não tenham mais utilidade e a redução do consumo de bens e serviços para evitar a geração desenfreada de resíduos sólidos e também para evitar o desperdício de recursos naturais, como água e energia.

Iniciativas como essas já criam uma nova consciência ecológica nos estudantes. Com os adolescentes, também é possível realizar um debate sobre as cidades verdes e a importância do uso de transportes como bicicletas, que não poluem o meio ambiente e, ainda trazem mais saúde para o dia a dia, tanto por estimular a prática de atividade física quanto por diminuir o engarrafamento nos pequenos deslocamentos dentro dos ambientes urbanos.

Formação Complementar - Para que a abordagem interdisciplinar da Educação Ambiental aconteça com qualidade, é fundamental que as escolas proporcionem formações adequadas para os professores acerca das mudanças climáticas. Isso porque nem sempre os professores receberam informações suficientes a respeito do tema durante suas graduações e precisam adquirir novos conhecimentos, inclusive atualizados, para ter embasamento suficiente em suas abordagens nas sala de aula e atividades externas.