A educação antirracista é uma abordagem de ensino utilizada como estratégia para combater o racismo estrutural no país. Ela reconhece a existência do racismo e cria atividades de conscientização para desmontar preconceitos e estereótipos presentes no dia a dia da vida em sociedade.
A escola é o local onde as crianças fazem seus primeiros vínculos fora do ambiente familiar. É lá que aprendem a conviver em grupo e a desenvolver comportamentos baseados nos valores incorporados. É também nas escolas que as crianças passam por situações de preconceito, violência e bullyng, sendo os estudantes negros os mais atingidos por essas agressões.
No intuito de fortalecer a educação antirracista e evitar a perpetuação do preconceito, foi instituída a Lei 10.639 de 2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, nas escolas públicas e privadas, de ensino fundamental e médio. Essa medida incluiu o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. Todos esses temas que haviam sido drasticamente apagados da história oficial durante séculos passaram a ser essenciais para a formação humanística dos estudantes nas escolas.
De acordo com a referida legislação, os conteúdos acima mencionados devem ser incluídos no currículo escolar e ministrados principalmente nas disciplinas de Educação Artística, Literatura e História do Brasil. Além disso, a norma também determinou a incorporação no calendário escolar do dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra.
Dessa maneira, as escolas possuem um arcabouço legal para incluir métodos de ensino que promovam a igualdade racial. O tema antirracista pode ser inserido de diversas maneiras no ensino infantil, como por exemplo através de livros com personagens negros como protagonistas ou da ênfase na perspectiva histórica. Mas, além do aprendizado teórico, é fundamental que as escolas promovam uma educação voltada para o comportamento no dia a dia, no intuito de combater atos de bullying ou exclusão de crianças devido ao preconceito racial.
Práticas Educativas Antirracistas
Para que a educação antirracista tenha resultados concretos no cotidiano das crianças, é preciso que o ensino ultrapasse o embasamento teórico. Claro que a disseminação de figuras importantes na luta contra o racismo é essencial para a compreensão da história do país, mas o aprendizado precisa ir além dos eventos histórico-culturais.
Será por meio da reflexão a respeito de assuntos como discriminação, exclusão racial e preconceito por conta da desigualdade social que os alunos vão desenvolvendo uma compreensão mais profunda a respeito dos problemas mais complexos da sociedade. Com isso, eles passam a adotar outros critérios na hora de se relacionar, pois conseguem ter empatia e respeito diante das diversidades existentes.
Confira a seguir alguns elementos-chave que podem ser incorporados nas escolas para promover uma educação antirracista dentro das instituições de ensino:
Currículo Inclusivo: o currículo escolar precisa ser elaborado levando em conta a seleção de textos e atividades que representem a diversidade racial do Brasil. Dessa maneira, os alunos entram em contato com uma variedade de pontos de vista e podem se inspirar em personagens com quem se identificam.
Diálogo Aberto: por mais que haja algum tipo de resistência ao desconforto do tema ou que os debates sejam acalorados, é imprescindível que as escolas promovam diálogos sobre as questões étnicas e sobre o preconceito racial. É por meio do livre debate de ideias que se cria um ambiente democrático de aprendizado empático e respeitoso.
Empoderamento de Personalidades Marginalizadas: trazer à tona a história de vozes tradicionalmente marginalizadas pela antiga historiografia ajuda os alunos a valorizarem a atuação de figuras antes invisibilizadas, como Zumbi dos Palmares, por exemplo.
Formação Adequada de Professores: as escolas precisam oferecer capacitações e workshops para os educadores sobre questões de igualdade racial, preconceito e privilégios. Assim, os professores poderão abordar essas temáticas de maneira atualizada e com a sensibilidade necessária.
Autores Representativos: é essencial incluir nos estudos literários textos e livros escritos por autores de diferentes origens étnicas. Isso enriquece o currículo e permite que os alunos conheçam diferentes narrativas e olhares a respeito do mundo.
Exemplos da Vida Real: trazer para a sala de aula exemplos do cotidiano atual é uma forma de gerar conexão e proximidade para o entendimento da importância do aprendizado antirracista.
A educação antirracista nas escolas proporciona a formação de indivíduos com maior capacidade crítica e respeito às diferenças. Dessa maneira, além de cumprir os preceitos legais dispostos na lei Lei 10.639 de 2003, as escolas que orientam os estudantes na conscientização sobre o racismo capacitam os alunos em direção a uma sociedade mais justa, impactando positivamente na autoestima de uma grande parcela dos estudantes.
Qual é a importância da literatura negra na educação infantil?
A educação na primeira infância constrói muitas referências na mentalidade das crianças. Essas referências ajudam a criar uma imagem de mundo, por isso é de suma importância saber quais conteúdos devem ser apresentados a elas nessa fase da vida. Até porque as crianças são influenciadas pelos discursos, que são capazes moldar suas ideias a respeito das relações humanas, do conceito de família, sociedade, religião, etc.
Nesse contexto, se, ao entrar em contato com a literatura, as crianças sempre vejam imagens padronizadas repetitivas, aquele modelo será interpretado como o que é certo e verdadeiro. Assim, as escolas precisam apresentar histórias que contemplem a diversidade racial e cultural para promover a representatividade.
Com isso, as crianças têm a oportunidade de se verem refletidas nas histórias que estão lendo. E esse processo de identificação é essencial para a construção da autoestima, da identidade e do senso de pertencimento.
Quando os alunos entram em contato com a literatura negra nas escolas, essas contribuem para a compreensão da diversidade cultural, ajudando no combate aos estereótipos e preconceitos. Muitas obras escritas celebram a herança cultural africana e afrodescendente, com destaque para a música, a arte, a culinária e as tradições. Além disso, também abordam questões históricas, como a escravidão e o movimento de luta pelos direitos civis. Essas narrativas ajudam as crianças a desenvolver uma consciência social desde cedo.
Indicação de livros infantis com representatividade negra
Já existem várias obras com vozes negras na literatura infantil brasileira e mundial. Listamos a seguir alguns dos títulos mais importantes do país que podem ser adotados para compor a representatividade no ensino de literatura nas escolas.
A Cor de Coraline, de Alexandre Rampazo. Finalista do Prêmio Jabuti 2018 na categoria Infantil, o livro conta a história de Coraline que, ao ouvir a pergunta “me empresta o lápis cor de pele?” ficou refletindo a respeito de que cor seria esta. Ela constata, ao olhar para todas as cores de sua caixa de lápis de cor, que existem várias cores de pele e que todas são lindas e significativas.
O Pequeno Príncipe Preto, de Rodrigo França. O texto original foi escrito para uma peça de teatro e, posteriormente, transformado em conto. A história ressalta a importância de valorizarmos quem somos e de onde viemos.
Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis, de Jarid Arraes. Essa obra tem o intuito de conscientizar as pessoas a respeito de mulheres negras que marcaram a história do nosso país com suas atitudes. São 15 narrativas contadas em formato de cordel que resgatam e valorizam a trajetória de diferentes mulheres que impactaram a formação do Estado brasileiro.
Amoras, de Emicida. O rapper Emicida conta a história de uma menina que se reconhece no mundo através de um diálogo que tem com o seu pai, debaixo de uma amoreira. O livro fala da importância de nos orgulhamos de quem somos e faz referências à representatividade, à cultura e à resistência negra, tudo com uma linguagem direcionada para o público infantil.
O Amigo do Rei, de Ruth Rocha. A autora traz uma história ficcional que remonta ao tempo da escravidão no Brasil. Nesse período, brancos e negros não podiam ser amigos. Mas, a narrativa mostra que para as crianças a coisa era bem diferente. A história valoriza a independência do pensamento e revela as brincadeiras e brigas de dois meninos separados pelas regras sociais, mas unidos pelo coração.