Artigos

Ensino EAD: qual o impacto das aulas remotas na aprendizagem?


Por Xavana Celesnah

O Ensino a Distância (EAD) nas escolas brasileiras foi impulsionado pela pandemia da COVID-19. Esse tipo de ensino trouxe uma série de desafios e algumas consequências negativas na aprendizagem do conteúdo programático. Como, em sua maioria, as escolas aderiram ao EAD de forma abrupta, por ser uma medida emergencial para conseguir continuar o ano letivo durante a crise de saúde pública, a prática revelou fragilidades e expôs alunos, professores e instituições a uma série de dificuldades.

Ensino EAD

De imediato, uma das principais consequências do EAD nas escolas brasileiras foi a desigualdade no acesso à internet. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação 2022 divulgada pelo IBGE em novembro de 2023, mais de 6,4 milhões de famílias permanecem sem internet em casa no Brasil.

Se essa situação se perpetua até hoje, demonstra claramente que nem todos os alunos conseguiram ter acesso à educação remota durante a pandemia e que, caso o Ensino a Distância fosse adotado no momento presente, a exclusão digital permaneceria impedindo o aprendizado. Como o país apresenta um grave índice de desigualdade social, uma parcela significativa dos estudantes não possui os recursos necessários para participar das aulas, como internet com conexão estável para as videochamadas e dispositivos eletrônicos para assistir às videoaulas, como celulares, tablets e computadores. Essa disparidade amplia as brechas educacionais, aprofundando as desigualdades já existentes.

Dessa forma, a lição que ficou no pós pandemia a respeito do ensino à distância foi que esse tipo de educação não dá conta de substituir o presencial e não consegue cumprir a missão de passar o conhecimento de forma eficaz no Brasil. Até mesmo os alunos que estavam presentes nas aulas remotas, devido à falta de supervisão direta, muitas vezes não prestavam atenção nos conteúdos transmitidos ou apenas entravam nas salas de aula virtuais para marcar presença, mas na verdade, fisicamente não estavam ali.

Ensino EAD Pós Pandemia

Isso gerou preocupações quanto à participação ativa e à compreensão efetiva do conteúdo. A procrastinação e a falta de disciplina autônoma se revelaram na maioria dos estudantes, impactando diretamente o aproveitamento acadêmico.

Além disso, a falta de preparo técnico e pedagógico de muitos educadores para lidar com o ambiente virtual também ficou evidente. A transição rápida para o EAD deixou os professores sobrecarregados, sem saber usar as novas tecnologias, resultando em uma curva de aprendizado desafiadora para muitos. Isso impactou diretamente na qualidade do ensino oferecido aos alunos.

Essas consequências negativas observadas destacam a importância de considerar cuidadosamente as estratégias de implementação do EAD no país, especialmente em momentos de crise. Para que o Ensino a Distância se revele eficiente quando for adotado, é necessário que as escolas ofereçam suporte técnico e pedagógico adequado aos professores, de forma preventiva, ou seja, mesmo sem que haja nenhuma crise evidente. Além disso, nas instituições particulares, é importante que se verifique se todos os estudantes têm os recursos necessários para participar desse tipo de aulas.

No caso das escolas públicas, o governo precisa criar estratégias de inclusão digital, garantindo os aparelhos necessários e a conexão com a internet adequada para as aulas.

Inclusão Digital EAD

Outra consequência que deve ser considerada no momento de adotar estratégias que incluam atividades EAD para complementar o ensino é o equilíbrio que precisa existir entre o presencial e o digital. O objetivo é evitar que haja a perda da interação presencial entre alunos e professores. Essa perda representaria um impacto significativo porque no ensino remoto há uma defasagem da dimensão humana no processo educativo e a interação face a face acaba sendo substituída por comunicações digitais. A sala de aula tradicional oferece não apenas instrução, mas também um espaço para trocas sociais, desenvolvimento de habilidades interpessoais e suporte emocional.

O Ensino a Distância pode ser adotado pelas escolas brasileiras?

De acordo com a Lei 9394/96, que é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o ensino fundamental no país deve ser realizado de forma presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais.

Portanto, a lei regulamenta que as escolas de ensino fundamental precisam adotar aulas no formato presencial e o ensino EAD fica permitido apenas para:

1. Atividades complementares feitas remotamente, como exercícios, trabalhos em grupo, leituras, jogos didáticos que enriqueçam o conteúdo aprendido em sala de aula

Atividades Complementares

2. Nos casos de necessidade de supletivos EAD para as pessoas que não concluíram o Ensino Fundamental na idade regular

Supletivos EAD

Como a transformação digital tem afetado as salas de aula?

Depois da pandemia, passou de 21% para 87% o número de escolas que adotam pelo menos uma atividade com o uso de tecnologias, de acordo com dados da pesquisa TIC Educação 2020.

O cenário atual mostra que a presença digital é uma realidade nas salas de aula. Não dá mais para excluir as tecnologias do processo de aprendizado. A mudança nos hábitos das crianças e adolescentes precisa ser observada e acolhida pelas escolas para que sejam feitas as atualizações necessárias ao ensino das novas gerações.

As atividades digitais, com o uso de recursos tecnológicos são capazes de motivar os alunos e inovar os sistemas de ensino. Elas também promovem atividades colaborativas com participação simultânea e, obviamente, despertam o interesse dos estudantes, que estão mais conectados do que nunca. A ideia é que esse modelo de ensino híbrido, com atividades presenciais e digitais, dê mais autonomia para os alunos.

Atividades com uso de tecnologia

Quais os impactos positivos do Ensino a Distância?

Além da superação das barreiras geográficas, o ensino à distância traz o desenvolvimento das habilidades digitais como um de seus benefícios. Os alunos são convidados a participar de salas de aula virtuais, onde aprendem a navegar em ambientes colaborativos. Apresentar trabalhos por meio de videoconferências, realizar atividades online em plataformas que permitem a interação em equipe, enviar arquivos por meio de ambientes digitais, tudo isso vai criando um repertório de práticas que ensina aos estudantes a habilidade de lidar com as tecnologias da comunicação, enriquecendo a experiência educacional.

No Brasil, o ensino EAD é permitido para supletivos e exige dos alunos uma certa autonomia e compromisso no aprendizado. Para que o conteúdo transmitido seja assimilado de forma satisfatória, os estudantes precisam dedicar atenção às aulas virtuais e saber priorizar os estudos, mesmo sem a supervisão de um professor, como acontece nas salas de aula presenciais.

EAD no Brasil

Outra vantagem do ensino remoto é a acessibilidade proporcionada pelo ambiente digital. O EAD pode ser projetado para atender diversas necessidades, oferecendo conteúdo acessível para pessoas com deficiências visuais, auditivas, motoras ou cognitivas. Recursos como legendas nos vídeos, interfaces adaptáveis, inclusão de tradução simultânea em libras e materiais em formatos acessíveis contribuem para que todos os alunos obtenham o conhecimento da melhor forma.

Diante desse cenário, percebe-se que o Ensino à Distância configura-se como um complemento valioso para a aprendizagem escolar por oferecer flexibilidade e recursos digitais. Mas, ele não supera a importância do ensino presencial, onde as interações diretas e o ambiente físico desempenham papeis essenciais para o desenvolvimento integral dos estudantes.

Impactos Positivos do EAD