Desafios das Redes Sociais para os jovens
Apesar das conexões proporcionadas pelas redes sociais, onde os jovens podem interagir com seus amigos, familiares, ídolos e uma infinidade de pessoas conhecidas e desconhecidas, essas mídias nem sempre geram a sensação de pertencimento social.
Elas podem aumentar a pressão social por conquistas e levar os jovens a se comparar constantemente com outras pessoas, da sua idade ou não. Essas comparações geralmente são com perfis de pessoas aparentemente muito bem sucedidas financeiramente e emocionalmente, gerando sentimentos de ansiedade e baixa autoestima nos alunos.
As postagens em redes sociais como o Instagram geralmente mostram vídeos de viagens incríveis, de eventos badalados, de amigos reunidos em festa, de pratos de comida em restaurantes caros e tudo isso afeta o psicológico dos estudantes, fazendo com que se sintam excluídos desse lifestyle e incapazes de conquistar uma vida tão alegre e bem sucedida como as que vêm diariamente nas suas redes.
Por isso, as escolas, por meio de professores e psicólogos, precisam orientar os alunos a respeito da importância de olhar para a própria trajetória e parar de fazer comparações. Conscientizar os jovens de que o feed do Instagram ou do TikTok não é a vida real daquelas pessoas é muito importante para resgatar a autoestima. Nem sempre as pessoas que estão postando suas fotos sorridentes em destinos exóticos pelo mundo afora estão realmente felizes. Os estudantes precisam saber que a vida virtual das postagens é muitas vezes uma montagem, como uma falsa propaganda e que a realidade vai muito além do que é visto ali.
Nesse sentido, a orientação da escola, em parceria com a orientação dos próprios pais e responsáveis é de que os estudantes busquem valorizar o tempo de qualidade com seus amigos e familiares no mundo real. E que diminuam a frequência de visualizações da vida alheia nas redes sociais. Construir seus próprios momentos, seja de lazer ou de estudos, vai gerar um sentimento de satisfação muito maior nos estudantes do que passar horas observando postagens de outras pessoas nas redes sociais.
Além disso, os educadores também podem sugerir que os estudantes reflitam sobre quem são as pessoas que andam seguindo nas redes sociais. O conteúdo compartilhado por essas pessoas é construtivo? Ou são pessoas que apenas se exibem por pura vaidade nos seus feeds? Vale a pena continuar seguindo perfis de pessoas que não têm nada de bom a acrescentar? Fazer com que os alunos reflitam sobre isso e percebam quais são as próprias sensações quando se deparam com as postagens de determinadas pessoas é uma forma de ajudá-los a evitar entrar em contato com conteúdos que lhes causam mal estar.
O medo de estar perdendo alguma coisa, também conhecido como FOMO (Fear of Missing Out) é outra emoção frequentemente associada ao vício em redes sociais. A consequência desse medo é o aumento da ansiedade nos jovens e adolescentes, que ficam compulsivos por checar as redes sociais a todo instante, em um comportamento similar ao dos dependentes químicos.
Esse nível de ansiedade afeta inclusive a qualidade do sono, gerando inúmeros casos de jovens com insônia crônica. Mas, a ansiedade pode ser minimizada através da limitação do tempo diário em que os estudantes vão entrar em suas redes. Pais e educadores podem monitorar o tempo que os estudantes passam nas redes sociais e observar mudanças de comportamento, como isolamento social, alterações de humor ou sinais de estresse. Promover a conexão dos estudantes consigo mesmos e não com as postagens vai, aos poucos, curando essa compulsão causada pelo uso exagerado das redes.
O ciberbullying é uma importunação virtual, feita por meio de intimidação, assédio ou agressão, geralmente feita por meio de mensagens nas redes sociais. Portanto, no ciberbullying, os jovens podem ser alvo de mensagens ofensivas, difamação, ameaças ou exclusão e cancelamento intencional nas redes sociais.
Essas ações costumam ter sérias consequências emocionais para as vítimas, levando a problemas como ansiedade, depressão e, em casos extremos, até mesmo o suicídio. É importante que as escolas promovam diálogos sobre os impactos negativos do ciberbullying, inclusive criando canais anônimos de denúncias para quem esteja sofrendo esse tipo de violência.
As escolas precisam fazer a sua parte no sentido de conscientizar sobre perigos das redes sociais e proteger os estudantes de possíveis agressões virtuais feitas por colegas. Essas condutas são capazes de promover uma mentalidade voltada para a cultura de paz no ambiente virtual, de modo que os estudantes se sintam respeitados e seguros.
Quais são as redes sociais mais usadas pelos adolescentes no Brasil?
Atualmente, mais de 25 milhões de crianças e adolescentes brasileiros de 9 a 17 anos utilizam a internet, de acordo com dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023. Desse total, 88% possuem pelo menos um perfil em alguma rede social. Essa porcentagem sobe para 99% se analisados apenas os jovens de 15 a 17 anos.
Do total de crianças e adolescentes ouvidos na pesquisa, 88% responderam ter acesso ao YouTube; 78% possuem WhatsApp; 66% têm perfil no Instagram; 63% têm conta no TikTok e 41% são usuárias do Facebook.
Veja a seguir quais são as plataformas mais usadas pelos jovens de acordo com a faixa etária:
• 9 a 17 anos de idade 36% usam Instagram; 29% usam YouTube; 27% usam TikTok e 2% usam Facebook
• 9 a 10 anos de idade: YouTube é o mais acessado com 42%
• 11 a 12 anos de idade: YouTube lidera com 44%
• 13 a 14 anos de idade: Instagram é o mais usado com 38%
• 15 a 17 anos de idade: Instagram lidera com 62%
Como as escolas podem contribuir para o uso saudável das redes sociais?
Em diversos países, a educação emocional já integra os currículos escolares, evidenciando a sua importância. Aqui no Brasil, o ensino da Inteligência Emocional deve ser incorporado de maneira multidisciplinar, com o tema sendo integrado às diversas disciplinas para que o aprendizado seja construído a partir de diversos pontos de vista.
Incluir o tema das redes sociais entre os assuntos abordados nas salas de aula é uma ação que as escolas precisam desempenhar para aprofundar o conhecimento a respeito do tema, incluindo os benefícios e desafios associados.
Ao estimular conversas abertas sobre o uso das redes sociais, as escolas proporcionam a troca de pontos de vista entre os estudantes, permitindo identificar os incômodos e situações desconfortáveis relatados pelos jovens. Com isso, a interferência dos educadores vai trazer esclarecimentos a respeito do bom uso das redes, inclusive abordando o quanto a saúde mental pode ser impactada negativamente por elas.
Dentre os tópicos abordados para conscientizar a respeito do bom uso das redes sociais está a ética online. O conhecimento da ética fará com que os estudantes saibam que existe uma maneira correta de agir no universo virtual, evitando ciberbullying e comentários haters nas publicações alheias.
Além das conversas em sala de aula, as escolas podem promover palestras com especialistas em saúde mental e também com profissionais que trabalham com redes sociais para dialogar a respeito das consequências psicológicas do uso descontrolado das redes. Ensinar os alunos a lidar com situações desafiadoras no ambiente digital e ajudá-los a se fortalecer emocionalmente para evitar cair em comparações e depressão são fundamentais para enfrentar essa realidade que impacta basicamente todos os jovens da atualidade.
Outro ponto importante que os educadores devem abordar ao discutir o assunto é a questão da privacidade. As redes sociais são plataformas onde as pessoas podem compartilhar basicamente tudo o que quiserem, mas será que essa divulgação excessiva de informações a respeito da vida é benéfica? Esse é um tópico que vale a pena ser colocado em debate, pois as postagens com compartilhamento de localização em tempo real, mostrando não apenas onde a pessoa está, mas seu quarto, sua casa, criam riscos para os jovens, que na maioria das vezes nem os percebem.
Promover a prática de atividades no mundo real, como esportes, dança, teatro, desenho, pintura, tocar instrumentos musicais, jardinagem, culinária e outras que tragam os estudantes para interações presenciais vai ajudar a reduzir a dependência das redes sociais e criar novos hábitos.
Ao adotar o debate e promover ações benéficas sobre as redes sociais, as escolas criam um espaço de diálogo construtivo e desempenham um papel responsável para o uso consciente dessas plataformas. O uso saudável das redes vai se refletir no bem estar emocional dos estudantes, que poderão usufruir dos benefícios das redes sociais de uma forma mais equilibrada e racional. Mas, se os efeitos negativos se mantiverem, o ideal é procurar o apoio de um profissional, como psicólogo ou terapeuta holístico para realizar um tratamento individualizado com questões específicas relacionadas aos problemas de cada caso em particular.