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Superando o Medo do Fracasso: Estratégias para Aumentar a Autoconfiança dos Jovens no Ensino Médio


Por Xavana Celesnah

Nas últimas décadas, observamos um aumento significativo nos níveis de ansiedade entre crianças e adolescentes, exacerbado pelo impacto das redes sociais. Esse fenômeno é particularmente evidente no contexto escolar, onde a pressão pelo desempenho acadêmico, combinada com outros fatores sociais, cria um ambiente propício ao desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Neste artigo, vamos mostrar como as escolas podem ajudar os alunos a superar a ansiedade de desempenho e promover a autoconfiança, utilizando insights de teóricos da psicopedagogia e reflexões de Brené Brown.

Crianças com Ansiedade

O Aumento da Ansiedade entre Crianças e Adolescentes

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% dos adolescentes em todo o mundo sofrem de transtornos de ansiedade. Nos Estados Unidos, a American Psychological Association (APA) relata que 32% dos jovens sentem que seu estresse é incontrolável, e 31% afirmam que o estresse aumentou no último ano. Estes números refletem uma crescente preocupação com a saúde mental dos jovens, especialmente em um ambiente educacional que muitas vezes enfatiza o sucesso acadêmico acima de tudo.

A pressão pelo desempenho nas notas escolares tem sido um dos principais contribuintes para a ansiedade entre os jovens, além da crescente exposição da vida privada nos aplicativos de redes sociais. A ênfase excessiva em conseguir boas notas e popularidade nas redes tem criado um ambiente emocional estressante, onde cada vez mais os estudantes sentem que precisam atingir padrões fora da realidade para se sentirem aceitos e valorizados. Além disso, o medo do fracasso, amplificado pelo constante julgamento e comparação com os colegas, exacerba ainda mais essa ansiedade.

Ademais, as redes sociais com sua exposição constante de imagens de vidas idealizadas e a inevitável comparação com os outros que essas imagens trazem, podem levar a sentimentos de inadequação e insegurança. Pesquisas demonstram que o uso excessivo de redes sociais está associado a maiores níveis de ansiedade e depressão. Um estudo publicado no Journal of Youth and Adolescence descobriu que adolescentes que passam mais de três horas por dia em redes sociais têm 30% mais probabilidade de sofrer de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade.

A cultura da comparação nas redes sociais acaba reforçando o medo do fracasso, levando os jovens a acreditar que precisam constantemente se provar e atingir o maior número de seguidores e visualizações em suas postagens para se sentirem confiantes. Um levantamento da Common Sense Media revelou que 29% dos adolescentes sentem-se pressionados a postar conteúdo com o objetivo de receber muitos comentários e curtidas, aumentando a ansiedade relacionada à autoimagem e aceitação social.

Ansiedade em Crianças e Adolescentes

Com isso, o medo do fracasso aumenta e vira uma constante na vida desses jovens. Muitos deles, inclusive nas escolas, internalizam a crença de que cometer erros ou falhar é inaceitável, o que pode levar a um ciclo de ansiedade e baixa autoestima. A psicopedagoga Madeline Levine argumentou que a ênfase excessiva no sucesso e na competição pode minar a autoconfiança dos alunos, levando-os a evitar desafios e oportunidades de aprendizado.

Para a escritora e pesquisadora, Brené Brown, em seu livro A Coragem de Ser Imperfeito, a vulnerabilidade e a aceitação das imperfeições são essenciais para a construção da autoconfiança. Brown destaca que é fundamental criar um ambiente onde os alunos se sintam seguros para falhar e aprender com seus erros, em vez de serem punidos ou ridicularizados por eles. De acordo com a autora, “A vulnerabilidade não é ganhar ou perder; é ter a coragem de se mostrar e ser visto quando não temos controle sobre o resultado." Essa mensagem é especialmente relevante para os jovens que estão aprendendo a navegar pelas expectativas de um mundo cada vez mais competitivo e conectado.

Impacto das Redes Sociais na Ansiedade

Plataformas como TikTok e Instagram, onde os usuários frequentemente compartilham momentos de suas vidas aparentemente perfeitas, podem intensificar a sensação de inadequação entre os adolescentes. Eles são bombardeados com imagens de sucesso, beleza, consumo e felicidade, criando um padrão irreal de perfeição a ser alcançado.

O documentário "O Dilema das Redes", de 2020, explora como essas plataformas são projetadas para manter os usuários engajados, muitas vezes às custas de sua saúde mental. A constante necessidade de validação através de curtidas e comentários pode levar os jovens a desenvolver uma autoestima baseada externamente, dependente da aprovação dos outros. Isso aumenta significativamente a ansiedade, especialmente quando o feedback que recebem não corresponde às suas expectativas.

Redes Sociais e Ansiedade

Nesse sentido, é importante que exista um debate em sala de aula sobre as consequências do uso das redes sociais na saúde emocional dos alunos. De modo que eles compreendam a lógica do algoritmo e possam criar uma nova forma, mais saudável, de se relacionar virtualmente.

Promovendo a Saúde Mental e o Bem-Estar nas Escolas: Estratégias e Intervenções

As escolas precisam criar ambientes de aprendizagem que apoiem a saúde mental e emocional dos alunos. Isso inclui promover uma cultura de aceitação e respeito, onde os alunos se sintam valorizados independentemente de seu desempenho acadêmico. É importante que os professores e administradores escolares recebam treinamento para reconhecer os sinais de ansiedade e fornecer apoio adequado aos alunos.

A implementação de programas de educação emocional, por exemplo, pode ajudar os alunos a desenvolver habilidades de autorregulação emocional e resiliência. O ideal é que esses programas incluam técnicas como mindfulness, gerenciamento de estresse e habilidades de resolução de problemas. De acordo com um estudo da organização sem fins lucrativos Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (CASEL), programas de aprendizado social e emocional (SEL) podem melhorar significativamente a saúde mental dos alunos e reduzir os sintomas de ansiedade. O estudo revelou que alunos que participaram de programas SEL apresentaram um aumento de 11% no desempenho acadêmico e uma redução de 10% nos sintomas de ansiedade.

No intuito de minimizar esses sintomas, as escolas podem reconsiderar suas políticas de avaliação e reduzir a ênfase nas notas e testes padronizados. Alternativas como avaliações formativas, feedback contínuo e oportunidades para aprendizado autodirigido podem ajudar a diminuir a pressão sobre os alunos. A pedagoga Maria Montessori, por exemplo, defende um método de ensino que respeite o ritmo individual de cada criança, promovendo a aprendizagem ativa e autônoma.

Além disso, a responsabilidade nos cuidados com a saúde mental dos alunos não é um papel exclusivo das escolas. Por isso, é necessário envolver os pais e conscientizar a comunidade no apoio à saúde mental dos estudantes. Programas de sensibilização e workshops para pais podem ajudá-los a entender melhor os desafios que seus filhos enfrentam e a fornecer o suporte necessário para que os pais saibam auxiliar os alunos em casa. A colaboração entre escola, família e comunidade cria uma rede de apoio sólida para os alunos. Estudos indicam que a participação dos pais na vida escolar dos filhos pode reduzir em até 50% a prevalência de sintomas de ansiedade entre os alunos.

Os professores e administradores escolares devem modelar comportamentos positivos e saudáveis em relação ao estresse e ao fracasso. Mostrar vulnerabilidade e compartilhar experiências pessoais pode ajudar a normalizar a ansiedade e ensinar aos alunos que é possível aprender e crescer a partir das dificuldades. A escritora Brené Brown enfatiza que líderes e educadores devem "ter a coragem de se mostrar" e ser exemplos de resiliência e autenticidade.

Superar a ansiedade de desempenho e promover a autoconfiança entre os alunos é um desafio que requer a colaboração de toda a comunidade escolar. Ao criar ambientes de aprendizagem de apoio, implementar programas de educação emocional, reduzir a pressão acadêmica, envolver os pais e a comunidade, e modelar comportamentos positivos, as escolas ajudam os alunos a desenvolver uma regulação emocional, que é cada vez mais necessária para enfrentar os desafios da vida com confiança e resiliência. Como Brené Brown afirma, é na vulnerabilidade e na aceitação das imperfeições que encontramos a verdadeira coragem e força para sermos autênticos e confiantes.

Saúde Mental e Bem Estar nas Escolas

Livros Recomendados para Superar a Ansiedade

Para aqueles que buscam mais recursos sobre como ajudar jovens a lidar com a ansiedade, aqui estão alguns livros recomendados:

1. "A Coragem de Ser Imperfeito" de Brené Brown

Este livro explora a importância da vulnerabilidade e como ela pode fortalecer a autoconfiança, incentivando os leitores a abraçar suas imperfeições e viver de forma mais autêntica

"O Corpo Fala no Adolescente" de Adriana Fóz

A psicopedagoga e neuropsicóloga, aborda como os adolescentes podem entender e lidar com as emoções e a ansiedade, explorando a conexão entre corpo e mente.

3. “Em Defesa do Ócio" de João Cabral de Melo Neto

Este livro oferece uma reflexão sobre o ritmo acelerado da vida moderna e a importância do ócio e do tempo livre para o bem-estar mental, incentivando uma abordagem mais relaxada e consciente da vida.

4. "Pais Competentes, Filhos Brilhantes" de Augusto Cury

O famoso psiquiatra e escritor, explora como os pais podem ajudar seus filhos a desenvolver inteligência emocional e lidar com a ansiedade, promovendo uma mentalidade saudável e resiliente.

5. "Ansiedade: Como Enfrentar o Mal do Século" de Augusto Cury

Neste livro, Cury oferece uma análise aprofundada da ansiedade, discutindo suas causas e efeitos, e apresenta técnicas para controlá-la, incluindo a gestão de pensamentos e a importância do autocuidado.

Com o apoio adequado de pais, professores e a comunidade, os estudantes podem aprender a navegar por essas dificuldades e a administrar melhor suas emoções. Para isso, é essencial que as escolas criem ambientes que promovam o bem-estar emocional e a saúde mental, equipando os alunos com as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios da vida com confiança.

Apoio de pais professores e comunidades